O
clima era de festa, o amigo morava em uma cidade vizinha e Edson ficou de
levá-lo para casa. No caminho se perde numa curva e acaba colidindo
frontalmente com uma árvore. No momento da festa Edson não imaginava que
voltaria para casa paraplégico. Edson Laurindo, 24 anos, ficou internado
durante 15 dias no Hospital de Azambuja e foi quando soube que não voltaria
mais a andar. No entanto, com muito esforço, conseguiu recuperar a
sensibilidade das pernas e hoje é auxiliar administrativo.
São
histórias como esta que se repetem com muita freqüência em Brusque, município
tido como o que possui maior número de veículos circulando por suas ruas
proporcionalmente à sua população. É comum a ansiedade dos jovens brusquenses
em completar 18 anos em possuir seu próprio meio de locomoção. Porém, nem
sempre os mesmos esperam completar sua maioridade para dirigir. Negligência,
imprudência, impaciência e falta de respeito à legislação de trânsito são
alguns dos principais fatores para o aumento significativo da violência no
trânsito brusquense.
O
médico legista de Brusque, Rafael Saadi Júnior, cita que o IML (Instituto
Médico Legal), responsável também por atender outros seis municípios da região,
realizou até julho de 2011 cerca de 600 exames de lesões corporais, sendo que 40%
foram provenientes de acidentes de trânsito. Já os exames cadavéricos dos 43
feitos por morte violenta, 25 foram devidos a acidentes, sendo que 18 vítimas
são de Brusque. Estudos indicam que para cada morte no trânsito existem quatro
sequelados em definitivo.
Jonas
Heckert, 37, teve parte da perna esquerda amputada por causa de um acidente de
trânsito em 20 de junho de 2000. Toco, como é conhecido popularmente, é um
exemplo de superação, hoje levando uma vida quase normal diz “sou uma pessoa
feliz e que ama a vida. Trabalho na minha lavação de carros, namoro a minha
esposa e participo da equipe de basquete sobre rodas”. Mas para chegar a esse
ponto ele passou por horas intermináveis de fisioterapia e muita dor, contando
também com o apoio de familiares e amigos.
Além
das mortes e das seqüelas físicas, os acidentes também deixam traumas
emocionais. Quem perde um ente querido em um acidente também fica com marcas.
Kênia Sclindwein perdeu sua amiga Thais Dietrich há um ano em um acidente de
trânsito. Ela diz que é desesperador saber que nunca mais verá sua melhor
amiga. Kênia não sente revolta, pois acredita que a pessoa que causou o
acidente não teve intenção, mas cita que a dor da perda não tem explicação e
que aumenta a cada dia.
Nos finais de semana os
números aumentam
Em
conversa com os médicos do hospital de Azambuja, Dra. Brigitte Brandes
hematologista e com o ortopedista Dr. Antônio Custódio de Oliveira Filho, sobre
a situação dos atendimentos que ocorrem no hospital durante os finais de
semana, Dra. Brigitte comenta que o maior uso de sangue em Brusque é para os
acidentes de trânsito. O banco de sangue sempre se prepara, pois nos finais de
semana eles tem que ter um estoque para os acidentes graves que acontecem.
Infelizmente às vezes o sangue é utilizado em vão, já que o corpo do acidentado
reage negativamente e ele acaba morrendo.
Dr. Antônio Custódio de Oliveira Filho
Além
do aumento dos acidentes em números, houve também um aumento significativo na
gravidade dos mesmos. O traumatismo craniano é um dos traumas que diminuiu em
pouco, graças à obrigatoriedade do uso do capacete. Dr. Custódio comenta que a
maioria das pessoas que chegam ao hospital nos finais de semana sofre acidentes
de moto e geralmente estão alcoolizados. Os traumas mais comuns são as fraturas
dos membros inferiores, “a perna é o pára-choque do motoqueiro”.
Dra.
Brigitte sugere que a população deveria se mobilizar e criar campanhas sobre a
conscientização no trânsito. Já para o Dr. Custódio, as campanhas de prevenção
surtem pouco efeito. Os dois acreditam que o aumento na punição dos infratores
é um ponto que talvez diminuísse a violência no trânsito de Brusque.
Dra. Brigitte Brandes
O
trânsito é um problema brasileiro e se não mudarmos a nossa forma de encará-lo,
respeitando a legislação, acabando com a impunidade e principalmente conscientizando
os jovens de que o carro ou a moto acabam se tornando armas em mãos
irresponsáveis, vamos continuar a chorar os mortos dessa sangrenta guerrilha
rodoviária.
Olga Luisa