sábado, 3 de dezembro de 2011

Violência correndo pelas ruas


O clima era de festa, o amigo morava em uma cidade vizinha e Edson ficou de levá-lo para casa. No caminho se perde numa curva e acaba colidindo frontalmente com uma árvore. No momento da festa Edson não imaginava que voltaria para casa paraplégico. Edson Laurindo, 24 anos, ficou internado durante 15 dias no Hospital de Azambuja e foi quando soube que não voltaria mais a andar. No entanto, com muito esforço, conseguiu recuperar a sensibilidade das pernas e hoje é auxiliar administrativo.

São histórias como esta que se repetem com muita freqüência em Brusque, município tido como o que possui maior número de veículos circulando por suas ruas proporcionalmente à sua população. É comum a ansiedade dos jovens brusquenses em completar 18 anos em possuir seu próprio meio de locomoção. Porém, nem sempre os mesmos esperam completar sua maioridade para dirigir. Negligência, imprudência, impaciência e falta de respeito à legislação de trânsito são alguns dos principais fatores para o aumento significativo da violência no trânsito brusquense.

O médico legista de Brusque, Rafael Saadi Júnior, cita que o IML (Instituto Médico Legal), responsável também por atender outros seis municípios da região, realizou até julho de 2011 cerca de 600 exames de lesões corporais, sendo que 40% foram provenientes de acidentes de trânsito. Já os exames cadavéricos dos 43 feitos por morte violenta, 25 foram devidos a acidentes, sendo que 18 vítimas são de Brusque. Estudos indicam que para cada morte no trânsito existem quatro sequelados em definitivo.

Jonas Heckert, 37, teve parte da perna esquerda amputada por causa de um acidente de trânsito em 20 de junho de 2000. Toco, como é conhecido popularmente, é um exemplo de superação, hoje levando uma vida quase normal diz “sou uma pessoa feliz e que ama a vida. Trabalho na minha lavação de carros, namoro a minha esposa e participo da equipe de basquete sobre rodas”. Mas para chegar a esse ponto ele passou por horas intermináveis de fisioterapia e muita dor, contando também com o apoio de familiares e amigos.

Além das mortes e das seqüelas físicas, os acidentes também deixam traumas emocionais. Quem perde um ente querido em um acidente também fica com marcas. Kênia Sclindwein perdeu sua amiga Thais Dietrich há um ano em um acidente de trânsito. Ela diz que é desesperador saber que nunca mais verá sua melhor amiga. Kênia não sente revolta, pois acredita que a pessoa que causou o acidente não teve intenção, mas cita que a dor da perda não tem explicação e que aumenta a cada dia.

Nos finais de semana os números aumentam

Em conversa com os médicos do hospital de Azambuja, Dra. Brigitte Brandes hematologista e com o ortopedista Dr. Antônio Custódio de Oliveira Filho, sobre a situação dos atendimentos que ocorrem no hospital durante os finais de semana, Dra. Brigitte comenta que o maior uso de sangue em Brusque é para os acidentes de trânsito. O banco de sangue sempre se prepara, pois nos finais de semana eles tem que ter um estoque para os acidentes graves que acontecem. Infelizmente às vezes o sangue é utilizado em vão, já que o corpo do acidentado reage negativamente e ele acaba morrendo.

Dr. Antônio Custódio de Oliveira Filho

Além do aumento dos acidentes em números, houve também um aumento significativo na gravidade dos mesmos. O traumatismo craniano é um dos traumas que diminuiu em pouco, graças à obrigatoriedade do uso do capacete. Dr. Custódio comenta que a maioria das pessoas que chegam ao hospital nos finais de semana sofre acidentes de moto e geralmente estão alcoolizados. Os traumas mais comuns são as fraturas dos membros inferiores, “a perna é o pára-choque do motoqueiro”.

Dra. Brigitte sugere que a população deveria se mobilizar e criar campanhas sobre a conscientização no trânsito. Já para o Dr. Custódio, as campanhas de prevenção surtem pouco efeito. Os dois acreditam que o aumento na punição dos infratores é um ponto que talvez diminuísse a violência no trânsito de Brusque.

Dra. Brigitte Brandes

O trânsito é um problema brasileiro e se não mudarmos a nossa forma de encará-lo, respeitando a legislação, acabando com a impunidade e principalmente conscientizando os jovens de que o carro ou a moto acabam se tornando armas em mãos irresponsáveis, vamos continuar a chorar os mortos dessa sangrenta guerrilha rodoviária.


Olga Luisa

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